Deixar os Jovens Serem Individualistas"
"Temos de Deixar os Jovens Serem Individualistas"
“…já fui do tipo de treinador que na decisão dos meus jogadores pretendia tudo como idealizava. Entretanto com os anos percebi que há jogadores que são muito melhores que o que eu fui, que
são capazes de melhor fazendo diferente” Vitor Pereira. “…se pretendemos ter bons jogadores em adultos temos de deixar os jovens serem individualistas” Francisco Silveira Ramos. Só há uma forma de os jovens aprenderem, evoluírem e tornarem-se mais capazes. Jogando. Errando, e voltando a jogar. O condicionamento das suas decisões por via oral não só não surtirá efeito como prejudicará o desenvolvimento das capacidades dos atletas. É preciso notar que os jovens jogadores se desenvolvem em função das suas próprias mais valias e debilidades. Em função das suas próprias características (velocidade, capacidade técnica, capacidade de drible) desenvolvem o seu jogar pelo sucesso / insucesso das experiências que vivenciam. Um jogador lento tenderá a melhorar a tomada de decisão. Terá de adaptar-se para sobreviver num meio que por norma o rejeita. O rápido de drible fácil por ter sucesso nas suas acções individuais centrar-se-à menos nas competências colectivas que o jogo pede. E nada do que os seus treinadores disserem alterará o curso das decisões dos seus jogadores. Só o sucesso / insucesso das experiências poderá mudar o padrão de decisões dos jogadores, sendo absolutamente determinante que os treinadores de jovens sejam capazes desde cedo de perceber o potencial e a melhor forma de o trabalhar. Jovens com menos coordenação e menos velocidade, que vão obtendo sucesso pela força terão pouco para oferecer anos mais tarde e não devem portanto limitar as possibilidades de desenvolvimento dos que por velozes na execução e com imensa qualidade técnica têm bastante mais potencial, mesmo que no presente denotem dificuldades na tomada de decisão ou na força. Até porque tais problemas só poderão ser ultrapassados pela experiência (tempo de jogo / situação de jogo, em treino e na competição). Determinante é portanto a qualidade do treino. Sempre virado para potenciar ao máximo as situações que os jovens encontram na competição, isto é, jogo com oposição. Situações defensivas / ofensivas, jovens sempre na tarefa, sem as tradicionais filas de espera, que deverão surgir esporadicamente em casos mais específicos. Jogos que potenciem ao máximo o número de repetições das situações que enfrentam, ajudando o jovem a construir as suas experiências que são sempre decisivas para o seu padrão de decisão. No trabalhar do potencial tem o treinador de perceber que é importante vencer, mas tal não poderá ser feito à custa do coarctar das possibilidades de desenvolvimento dos que apresentem maior potencial, ultrapassados sempre por outros que por terem somente mais força garantem no imediato mais golos, e quem sabe mais vitórias, mas que no futuro, com o nivelar de tal capacidade condicional não serão aptos o suficiente para prosseguir. E entretanto os que poderiam emergir foram prejudicados pela visão reducionista dos seus maus treinadores.
Pedro Bouças
Licenciado em Ed.Física e Desporto, especialização na modalidade Futebol