Entrevista a Mário Môço treinador dos Iniciados(A) do Vitória de Setúbal

11-08-2013 17:46

Entrevista a Mário Môço treinador dos Iniciados(A)
do Vitória de Setúbal



Nome: Mário João Paixão da Silva Môço
Data de nascimento: 3 de Junho de 1969
Nacionalidade: Portuguesa, embora tenha naturalidade Angolana
Clube: Vitória Futebol Clube de Setúbal



A Carreira como jogador? 

MM-1981/1982 – Comércio Indústria de Setúbal (Iniciado); 82/83 – Vitória F.C. e Praiense de Setúbal (Iniciado); 83/84 – Torralta (Juvenil); 84/85 – Torralta (Juvenil); 85/86 – Torralta (Júnior); 86/87 – Torralta (Júnior); 87/88 – Torralta e Portimonense (Sénior); 88/89 até 90/91 Mexilhoeira Grande (emprestado do Portimonense); 91/92 Estombarense (emprestado do Portimonense); 92/93 Alvorense (emprestado do Portimonense); 93/94 Portimonense, mas inativo a época toda por lesão no joelho; 94/95 e 95/96 Pinhalnovense (Amador); 96/97 Alcaçovense (Amador); 97/98 Grandolense (Amador) e 98/99 Pinhalnovense (Amador).


Títulos no Vitória?


MM-No Vitória venci como treinador principal: 3 Campeonatos Distritais de Benjamins e 3 Campeonatos Distritais de Infantis, que no total são 6 Campeonatos. Mas, tive ajuda de ter bons jogadores, diretores, secionistas, colaboradores de treino, encarregados de educação, técnicos de rouparia e sócios que acompanharam as equipas. Também tive vários fatores de presságio que me ajudaram imenso no meu sucesso: fui jogador de futebol, tenho o curso de educação física (didáticas e pedagogias), tenho o Curso de III nível de treinador de futebol (média 17 valores) e trabalhei com grandes treinadores que me ensinaram imenso.


Á Quantos anos está o Mário no Vitória?


MM-No Vitória como treinador estou há 16 épocas, esta será a décima sétima. Convidaram-me assim que acabei o curso de Professor do Ensino Básico na Variante de Educação Física, na Escola Superior de Educação, em Setúbal, em 1997. Comecei na época 1997/1998 nos Iniciados A (Treinador adjunto/preparador físico); 98/99 – Iniciados A (Treinador adjunto/preparador físico); 99/00 – Juvenis (Treinador adjunto/preparador físico); 00/01 – Juvenis (Treinador adjunto/preparador físico); 01/02 – Juniores (Treinador adjunto/preparador físico); 02/03 - Escolas/Benjamins (Treinador); 03/04 - Escolas/Benjamins (Treinador); 04/05 - Escolas/Benjamins (Treinador); 05/06 Escolas/Benjamins (Treinador); 06/07 – Infantis A (Treinador); 07/08 – Infantis A (Treinador); 08/09 – Infantis A (Treinador); 09/10 - Infantis A (Treinador); 10/11 - Benjamins (Treinador); 11/12 - – Infantis A (Treinador); 12/13 – Iniciados b (Treinador); 13/14 – Iniciados A (Treinador).


Qual para si as melhores escolas de formação no mundo?


MM-É uma pergunta que não é fácil, pois o futebol está em constante evolução e para avaliarmos uma formação terá que ser pelo seu produto final. E podemos avaliar nos últimos anos a equipa de sucesso mundial que o Barcelona formou com uma enorme quantidade de jogadores oriundos da sua formação. Infelizmente, muitas escolas de formação têm qualidade, mas mudam constantemente de filosofias, porque mudam direções e querem resultados imediatos na formação e quando se queimam etapas na formação dificilmente conseguimos resultados nos seniores. Neste momento, há mais um fator,… os empresários.


Qual o melhor treinador do mundo e o jogador?


MM-Outra pergunta nada fácil, mas a avaliar pelos últimos anos é o José Mourinho, no entanto existem outros que também o poderão ser. Em Julho de 2001, quando observei o estágio do União de Leiria, em Touriz com o José Mourinho afirmei que estava ali o melhor treinador do mundo. Fui gozado, brincaram comigo e tenho muitas testemunhas do que disse, passados alguns anos, afinal tinha realizado uma boa avaliação. O melhor jogador do mundo é o Cristiano Ronaldo, porque é o mais completo. Pois é fisicamente muito forte, receciona, passa e remata muito bem com qualquer pé e cabeça (e é português). Embora não nos possamos esquecer do Messi.


Ambições como treinador de futebol?


MM-Continuar a evoluir para um dia chegar a treinador da Superliga. E caso chegue lá ser Campeão Nacional !


Quais os jogadores da Formação que podem chegar a profissionais?


MM-Muito difícil essa pergunta. Mas, fácil resposta: “Todos os jogadores que estão na formação”. Porquê? Porque é um longo processo de evolução, e o jogador tem que evoluir fisicamente, tecnicamente e psicologicamente. E quando sócio-afetivamente não estiver um bom background familiar ou um bom tutor, o ser humano (atleta) perde-se. Para não falar de sorte…lesões…empresários…etc. 


Uma frase tua "Primeiro está a formação".


MM-Sempre disse e continuo a afirmar: “Primeiro está a formação”, porque nem todos os atletas vão conseguir ser jogadores de futebol, mas vão ser pais de família no futuro e se calhar estarão melhor preparados para educar os seus filhos se tiverem uma boa formação cívica e desportiva. Por outro lado, não queimo etapas na formação de um jogador de futebol, preocupando-me mais no processo (nas tarefas), do que no produto final. Evitando criar uma pressão excessiva no jovem atleta. O importante é que sinta prazer naquilo que fazem e gostam, apesar das responsabilidades. Mas, se conseguirmos conciliar os resultados formando, ainda se torna mais motivante. Mas, se isso não acontecer os jogadores saem com a consciência tranquila do dever cumprido, não saindo frustrados.


Que clube Mundial gostavas de um dia treinar?


MM-O Clube Mundial que gostava de treinar um dia era o Vitória de Setúbal, depois um dos três grandes em Portugal e por fim uma equipa inglesa (pela paixão que existe em Inglaterra).


É difícil de trabalhar com miúdos de 13,14,e 15 anos?


MM-Não, é muito fácil. Nestas idades são muito dedicados, e se acreditam no trabalho do treinador assimilam facilmente e evoluem bastante, apenas temos que ter o cuidado que existe grandes diferenças maturacionais e fisiológicas entre os jogadores. 


Qual a sua opinião sobre estrangeiros de qualidade duvidosa nos nossos campeonatos?


MM-É muito mau para a nossa formação, pois tiram o lugar a jovens portugueses que poderiam ter a oportunidade de chegarem mais longe no futebol. 


O que fazer para que a mentalidade mude, e se aproveite mais os jovens da formação?


MM-Basta restringir o número de estrangeiros. Mas, infelizmente existem interesses que falam mais alto.


O que aconselhavas para melhorar a formação no Vitória?


MM-Aconselhava a ter mais infraestruturas (campos sintéticos e relvados) e logística para apoiar a grande quantidade de atletas e equipas que o Vitória tem. Uma Academia aonde o Clube pudesse ter jogadores do norte ao sul e lhes desse condições para estarem em Setúbal, proporcionando a sua evolução como individuo e atleta. Carrinhas que pudessem transportar jogadores do distrito que querem vir jogar para o Clube, mas não têm condições para virem.


O Mário é o treinador da formação com mais títulos, qual é a responsabilidade?


MM-A responsabilidade aumentou porque as pessoas olham para o meu trabalho de forma mais exigente, pois sabem que vou ter qualidade no que vou fazer. No, entanto mantenho a mesma humildade e paixão em aprender e evoluir mais. Para mim, os títulos só foram importantes porque me foram dando crédito para ter margem para evoluir cada vez mais. Mais importantes do que os títulos conquistados foram as amizades que ficaram para sempre, hoje alguns já são pais, não foram jogadores profissionais e nunca se esquecem do ano que trabalharam comigo. E mais importante do que títulos é constatar que estão 7 jogadores nos seniores que trabalharam comigo e alguns fui eu que os fui convidar, quando ainda tinham 10 anos. Para não falar, de outros jogadores que saíram do clube e que tive o privilégio de os ajudar a crescer: Filipe Chaby (Sporting), Luís Cortez (Belenenses), João Meira (Belenenses), João Pica (Tondela), Paulo Ribeiro (Chaves) e outros.


Este ano vais treinar no Campeonato Nacional (Iniciados), o maior desafio? O que esperas?


MM-O maior desafio é conseguir aproximar a equipa dos grandes clubes. Porque esta geração não é uma geração de ouro e estamos muito atrasados em relação às equipas de Lisboa. Pois, ainda estávamos a fazer futebol 7, já eles estavam a fazer futebol 11. O ano passado jogámos na 2ª distrital de Setúbal e as outras equipas jogaram na 1ª Distrital de Lisboa, tendo por isso um ritmo competitivo muito mais elevado. Para não falar que os grandes de Lisboa têm duas ou três equipas enfraquecendo ainda mais o nosso poder de escolha.


O teu clube do Coração?


MM-Vitória Futebol Clube de Setúbal, primeiro porque representa a cidade aonde adoro viver e por outro lado pelo misto de emoções que me transferiu desde que entendo de futebol, pois sou sócio do clube desde 11 de Outubro de 1977 (35 anos). E por fim as emoções como treinador deste Clube que treino desde 1997.


A tua relação com os jogadores?


MM-Isso é sempre melhor perguntar aos meus jogadores. No entanto, tento fazer feliz quem está comigo e confia em mim. Penso que hoje em dia quem não é amigo do seu jogador, quem não consegue fazer um bom balneário e quem não consegue gerir grupos e motivá-los não terá sucesso. Cada vez mais, quem não investe na parte social não terá sucesso desportivo. Pois, se um ser humano não está bem psicologicamente não poderá atingir a sua própria autossuperação.


A maior alegria?


MM-É difícil, pois já tive muitas alegrias com o Vitória. A última Taça de Portugal, em que o Vitória venceu o Campeão SL Benfica por 2-1, no Jamor. Os seis Campeonatos Distritais que venci. Os jogadores que ajudei a chegar a profissionais e os ex-jogadores que já deixaram de jogar formaram família e agradecem o ano que trabalharam comigo. Isto para mim são tudo alegrias.


Uma mágoa ?


MM-Não tenho mágoa de ninguém, pois não quero o mal de ninguém, bem pelo contrário gostava que todas as pessoas fossem felizes, mas infelizmente os interesses das pessoas e o seu egocentrismo falam mais alto. Eu aprendi a dar desprezo e a deixar o tempo encarregar-se de trazer a verdade e a justiça. Pois, quem semeia colhe e se não foi correto comigo, também não será com quem se atravessar no seu caminho e nem todos reagem da mesma forma do que eu… A minha maior mágoa não é para ninguém, mas sim pessoal, pois na maioria das vezes não estou com a minha família.


Como comentas a troca de "mimos" Cristiano /Mourinho?


MM-Não vou comentar, porque gosto muito dos dois. E quando existe uma discussão entre duas pessoas normalmente já existe um acumular de factos. Aprendi com a vida, que nem tudo o que parece é, e quem tem melhor conhecimento de causa dos problemas entre duas pessoas é quem está envolvido no seu contexto. No entanto, fico triste porque conheço pessoalmente o José Mourinho e gosto muito dele. E pelas reações do Cristiano perante certos factos também gosto muito dele.



Mário Môço
Desejo a todos os leitores muitas felicidades. Que pelo menos sejam tão felizes como tenho sido na minha vida pessoal e profissional. Agradeço à minha família e amigos os apoios que sempre me têm dado.