Entrevista Estêvão Gonçalves / Treinador / FC Barreirense Escalão 2002

06-05-2015 14:46

Entrevista Estêvão Gonçalves / Treinador / FC Barreirense Escalão 2002

Nome: Estêvão Martinho dos Santos Gonçalves 
Data de Nascimento: 14 de março de 1975 
Naturalidade: Lisboa 

SD-Jogaste futebol? 

EG-Sim, joguei futebol durante 20 anos. Depois de começar a jogar nos iniciados do Luso FC no ano seguinte fui para o FC Barreirense onde passei por todos os escalões de formação e até aos seniores (e agora nos veteranos). Depois de sair do Barreirense joguei até aos 31 anos sempre nos Campeonatos Nacionais da 2.ª e 3.ª divisão (Palmelense FC, ACD Beneditense, CD Pinhalnovense, Seixal FC, Estrela FC Vendas Novas). No último ano em Vendas Novas, depois de 6 operações aos joelhos tive que optar entre deixar de jogar ou voltar a ser operado aos ligamentos cruzados e optei por abandonar. 

SD-Tens algum titulo como treinador? 

EG-Não, como treinador não tenho qualquer título conquistado, tenho-os apenas como jogador. 

SD-No fim da 1ªVolta estás á frente do campeonato, é possível vencer? 

EG-Estarmos à frente do campeonato no final da 1.ª volta não quer dizer absolutamente nada, mais ainda num campeonato tão equilibrado em que entre o 1.º e o 5.º classificado há apenas 4 pontos de diferença e 21 pontos por disputar. Seria hipócrita da minha parte se dissesse que não é possível vencer mas qualquer uma das 5 equipas têm essa ambição e condições de o fazer e vai ser um campeonato discutido até ao final.

SD-Esta fase final é das mais competitivas, dos últimos anos, concordas? 

EG-Sim, tenho que concordar com isso e a classificação ao final da 1.ª volta reflecte isso mesmo.


SD-Estás há muitos anos ligado à formação de jovens como treinador de futebol? 
Como começou esta aventura de ser treinador?

EG-Sou treinador há 8 épocas. Comecei a treinar na época seguinte a ter deixado jogar. Durante 3 anos trabalhei como adjunto nos juniores do Palmelense FC com o Hugo Ferreira, passei depois pelos Benjamins do Palmelense, estive 1 época nos infantis do CCD Brejos de Azeitão e no final dessa época surgiu o convite do Barreirense, onde estou há 3 épocas.

SD-A Formação faz sem dúvida parte da tua vocação, contudo, tens como objetivo um dia vir a treinar um clube sénior
profissional? 

EG-Não, não tenho esse objectivo. Gosto e sinto-me realizado a treinar escalões de formação e para além disso só com um projeto muito bom e em condições muito especiais assumiria o treino profissionalmente, deixando a minha profissão actual.

SD-Os jovens de hoje continuam a ter poucas hipóteses de chegar ao topo, em virtude do excesso de estrangeiros ?

EG-Se considerarmos chegar ao topo a integração e afirmação nas equipas seniores, a questão do excesso de estrangeiros é realmente um dos factores que dificulta a afirmação dos jovens. E isto passa por uma questão cultural, em que mesmo os adeptos aceitam melhor e são muito mais tolerantes para um jovem estrangeiro do que para os jovens da casa mas também por uma questão financeira. Os clubes na sua generalidade, senão todos, apostam nos jovens da formação apenas quando têm dificuldades financeiras e muito raramente por uma questão de princípio e por acreditarem nessas apostas. A intensificar este problema assistimos hoje em dia a um aumento cada vez mais acentuado de jogadores estrangeiros também nas equipas juniores e não apenas nas equipas seniores. Apostas dos clubes, apostas de empresários, que obviamente querem ter retorno do investimento efetuado. 

SD-Como se formam atletas? Que valores é preciso transmitir aos jogadores? 

EG-Em minha opinião a formação dos jovens jogadores passa por potenciar as suas capacidades físicas e psicológicas e as suas competências técnicas e táticas, contribuindo para a sua evolução e preparando-os para que a sua tomada de decisão seja efectuada com a menor margem de erro possível. Por outro lado é nossa obrigação (treinadores) contribuir para a formação e crescimento da criança/jovem para além do atleta, transmitindo-lhes valores que devem passar pelos ideais associados à prática desportiva mas que infelizmente são muitas vezes esquecidos no futebol. Devemos transmitir e exigir o respeito por todos os intervenientes (colegas, adversários, árbitros, público), incentivar a procura da vitória mas não a todo o custo e independentemente do resultado manter uma postura correta e de respeito para com o outro. 

SD-O que faz com que um jovem atleta seja um potencial candidato a ter uma carreira profissional? 

EG-Acima e antes de tudo obviamente a qualidade do atleta, a sua capacidade técnica, física e psicológica, que poderá teoricamente torná-lo mais apto. Juntamente com estas aptidões, a sua capacidade de trabalho, entrega e disponibilidade para aprender e depois um conjunto de factores muito voláteis e que farão toda a diferença: não ter lesões, ter oportunidades de demostrar o seu valor, estar preparado quando surgirem as oportunidades. 

SD-Quais são as maiores dificuldades que os jovens encontram, quando fazem a transição do futebol 7 para futebol 11? 

EG-As principais diferenças são as dimensões e os números: aumenta a área de jogo, o número de jogadores, o tamanho das balizas, o fora de jogo passa ser a partir do meio campo. As principais dificuldades passam pela adaptação a esta nova realidade, quer fisicamente, quer ao nível do posicionamento em campo, do ocupar os espaços, defensiva e ofensivamente, do transpor e não perder os princípios de jogo da equipa nesta passagem do futebol 7 para o futebol 11. 

SD-Quais são os teus objetivos para o futuro?

EG-Não tenho objetivos definidos a longo prazo, nem o “sonho” de treinar equipas seniores. Os meus objetivos como treinador passam por continuar a treinar e a trabalhar com jovens, enquanto isso me der prazer e enquanto for útil. 

SD-Fala da formação do Barreirense. 

EG-A formação sempre foi a alavanca do Barreirense, sendo reconhecida como uma das melhores escolas do país e de onde saíram alguns dos melhores jogadores do futebol português. Com todo o respeito que os outros clubes merecem, jogar no Barreirense não é e não pode ser igual a jogar noutro clube qualquer. Cabe-nos a nós que trabalhamos no clube a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho realizado, adaptar o clube à atual realidade e continuar a preparar e formar jogadores com qualidade, incutindo-lhes também a responsabilidade e o orgulho que é e deve ser vestir esta camisola e representar este clube.

SD-Acreditas nesta geração de 2002, para o futuro? 

EG-Esta geração, como todas as outras, tem jogadores com qualidade, com aptidões que poderemos perspetivar que eventualmente possam vir a ter sucesso mas como disse numa das questões anteriores não poderemos fazer futurologia e o que irá acontecer depende da conjugação de um variado conjunto de fatores. 

SD-Vais continuar com esta equipa na próxima época?

EG-Relativamente à próxima época não está ainda fechado o desenho da estrutura pelo que neste momento é uma incógnita a minha continuação ou não com esta equipa. 

SD-O que aconselhavas para melhorar a formação no Barreirense? 

EG-Pessoalmente e em equipa temos trabalhado para que essa melhoria seja uma constante, quando a conselhos/propostas, estando integrado na estrutura do clube eles são dados internamente e nos locais próprios, não sendo este obviamente o local apropriado para o fazer. 

SD-A melhor escola de futebol do mundo? 

EG-Ajax

SD-O melhor jogador do mundo?

EG-Da atualidade: Ronaldo e Messi. De todos os tempos: Diego Armando Maradona 

SD-O melhor treinador? 

EG-A trabalhar atualmente e entre os melhores de sempre Mourinho e Guardiola e gosto muito também de Klopp. Rinus Michels e Arrigo Sacchi marcaram a sua geração estando um passo à frente dos outros. 

SD-O teu clube? 

EG-Sou do Belenenses, clube de que sou sócio desde o dia em que nasci. O Barreirense ocupa também um lugar muito especial. Foi o clube onde cresci, onde entrei menino e sai homem, onde fiz amizades para a vida.